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Função preventiva da Contabilidade é essencial nas contas públicas

Por Lenilde De León e Danielle Ruas

CRC RJ: a casa das sete mulheres. Filhos, marido, casa, trabalho, estudo. Hoje a mulher tem várias funções e tem de se esforçar mais que muitos homens para mostrar suas qualidades. Tal cenário não é diferente na Contabilidade: a ideia de que, para ser profissional contábil, era necessário ser homem e gostar de cálculos ficou para trás. Hoje o toque feminino está presente em todas as áreas e, de certa forma, ajuda a sociedade a compreender o complicado mundo dos números. Neste mês de março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher, a presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro – CRC RJ, Vitória Maria da Silva, fala, em entrevista à Revista Dedução, sobre o avanço da mulher neste mercado e as mudanças no exercício da profissão.

Segundo ela, hoje o CRC RJ conta com sete colaboradoras e a tendência é aumentar ainda mais este número. Durante a entrevista, Vitória comenta também sobre a situação das contas públicas no Estado do Rio de Janeiro e que hoje, no Brasil, falta Contabilidade.

Como está o cenário das mulheres contabilistas?

Cada dia mais aumenta o número de mulheres na Contabilidade, tanto empresárias quanto profissionais. Houve ainda aumento significativo das mulheres nos cargos dos Conselhos Regionais de Contabilidade e entidades de classe. Hoje, no CRC RJ, nós somos sete mulheres e pretendemos aumentar esse número cada vez mais porque o espaço é nosso. Nós só precisamos conquistá-lo com competência, zelo, dignidade, ética e ter os homens ao nosso lado.

Quais são seus planos para este e os próximos anos frente ao CRC RJ?

Eu estou na segunda gestão como presidente do CRC RJ. Nós traçamos metas até o fim desta administração, que termina em 31 de dezembro de 2017, dando continuidade, principalmente, às oficinas das “Quartas do Conhecimento”, onde são ministradas palestras e realizados debates sobre temas contábeis atuais e relevantes, na sede do Conselho, sempre às quartas-feiras. Outro objetivo muito importante é atingir os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro com nosso treinamento para os profissionais contábeis da área pública, uma vez que há muita necessidade de capacitação.

Como está a situação das contas públicas do Estado do Rio de Janeiro?

Infelizmente, 70% das contas públicas das prefeituras das cidades do Rio de Janeiro foram condenadas pelo Tribunal de Contas da União – TCU. Inclusive, por isso, estamos com treinamentos para os profissionais da Contabilidade que atuam na área pública. Por meio dos cursos de capacitação, já atingimos 15 municípios, mas temos por meta qualificar e certificar todas as 92 cidades o mais breve possível.

As manifestações que tomaram as ruas do Brasil nos últimos dias trouxeram à tona a insatisfação da população brasileira com o mau uso do dinheiro publico, principalmente com as denúncias de corrupção que tem afetado o governo federal diretamente. Em sua opinião, qual é o principal papel da Contabilidade como instrumento de transparência nos controles sociais?

A função preventiva da Contabilidade é essencial para que não haja situações corruptas e corruptíveis. Para acabar com a corrupção do nosso País o que falta é uma boa Contabilidade, já que esta ciência é um dos principais instrumentos para a transparência dos controles sociais, fiscalização de balanços e relatórios, bem como um planejamento mais eficaz de aplicação de verbas. Vale destacar ainda que as auditorias contábeis impossibilitam o mau uso de verbas. Com elas, é muito mais difícil praticar desvios. A Contabilidade tem um papel eficientíssimo na luta pelo uso efetivo do dinheiro público, uma vez que, por meio dela é possível identificar a destinação irregular de verbas públicas e gastos excessivos.

Está faltando Contabilidade?

Sim, sem dúvida. Há a ausência de Contabilidade neste País para identificar gastos excessivos, irregularidades no uso de recursos da população, verificar se as leis e regras vigentes estão, de fato, sendo respeitadas e se os balanços refletem a realidade.

Como dar autonomia aos profissionais contábeis neste quesito?

Estes profissionais, quando são nomeados para trabalhar nas Controladorias dos municípios ou dos Estados, bem como na Controladoria Geral da União – CGU, devem ter autonomia. Não podemos permitir que os profissionais contábeis continuem a fazer o que os gestores públicos querem que eles façam. É inadmissível! Por isso estamos vivenciando as pedaladas fiscais, que é a prática do Tesouro Nacional de atrasar propositalmente o repasse de dinheiro para bancos públicos e privados e autarquias, como a Previdência Social, por exemplo. Com as pedaladas, o propósito do governo era melhorar artificialmente as contas federais. É a chamada “Contabilidade criativa”, a qual não existe.

O que falta para esses profissionais terem independência?

Nada mais nada menos do que a Contabilidade.  A Contabilidade precisa ser descoberta pelos administradores públicos. Não existe Contabilidade criativa. Não existe pedalada fiscal. É necessário que os profissionais responsáveis pela Contabilidade tenham autonomia, liberdade e independência na execução de suas atribuições e conheçam efetivamente as responsabilidades que passam a assumir quando assinam as demonstrações contábeis, bem como os cuidados e providências na correção dos problemas apurados, sobretudo na administração pública. É fundamental que nossos gestores, se quiserem fazer uma gestão digna e confiável, deem tal autonomia as profissionais contábeis porque o que falta hoje no nosso País é vergonha na cara.

O Conselho Federal de Contabilidade – CFC tem resoluções que tratam da Contabilidade pública e há vários treinamentos, cursos e programas de conscientização a respeito deste assunto. Como você vê essas iniciativas e de que forma o CRC RJ tem atuado?

A Educação Profissional Continuada, obrigatória e facultativa, é o mais importante instrumento. Por meio dela, atividades programadas e reconhecidas, mantém, atualizam e estendem as competências teóricas e práticas dos profissionais da Contabilidade, bem como seus padrões éticos, característica fundamental à qualidade dos serviços contábeis prestados. Hoje nós estamos com um programa de Educação Continuada em todas as cidades do Estado do Rio e acreditamos que a educação continuada tem o poder de potencializar e valorizar o profissional contábil para melhor execução e aplicação dos conhecimentos específicos. Por meio deste processo contínuo, é possível conviver e ser melhor referencial consigo mesmo, com seus semelhantes e com a sociedade, de forma geral.

De que forma o contador pode ajudar o empresário neste momento de crise financeira e política?

Tudo que está acontecendo no nosso País é muito triste: empresas fechando suas portas, o desemprego em alta, famílias perdendo seu poder de consumo… Por outro lado, é como se o Brasil tivesse sido “passado a limpo”. Nós superaremos essa crise, com certeza. Já superamos outras. Neste processo, a participação dos profissionais da Contabilidade é fundamental. O empresário tem que andar de mãos dadas com o contador para juntos superarem obstáculos e atingirem objetivos.

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