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Na crise, empresas devem produzir mais com menos

Por Lenilde De León e Danielle

Ruas Como disse certa vez o arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886 – 1969), less is more, que, na íntegra, significa “menos é mais”. Ele estava certo, na visão do presidente do Sindicato dos Contabilistas de Ribeirão Preto e Região, Márcio Minoru Garcia Takeuchi, que, em entrevista à Revista Dedução explicou que em momentos de crise como este pelo qual o Brasil vem atravessando, é necessário que as empresas produzam mais com menos. Em sua visão, o contador tem um papel significativo no que diz respeito ao dinheiro.

Além disso, Minoru fala ainda do advento do Sistema Público de Escrituração Digital – Sped e seu impacto para as empresas de todos os portes e segmentos e propõe uma reflexão sobre o uso consciente dos recursos públicos.

Eu seu parecer, qual é o futuro da Contabilidade no Brasil?

Com a concorrência aumentando a cada dia, inclusive devido às novas tecnologias, é importante que o profissional da Contabilidade mude e se ajuste a esse mercado mais competitivo.

Como ele pode e deve fazer isso?

Adotando uma postura de fomentar os seus clientes, de promover os empreendedores, atuando como uma espécie de mentor. O profissional da Contabilidade hoje usa muito pouco as ferramentas de gestão em relação a ele e às empresas nas quais presta atendimento. A partir do momento que ele incentiva seus clientes e profissionaliza a gestão, é provável que terá uma oportunidade maior de crescimento e, consequentemente, aumento no faturamento. Além disso, tal prática é um grande diferencial, uma vez que os empreendedores que recebem esse fomento tem uma elo maior com o profissional da Contabilidade, em um mercado onde há uma competitividade imensa por conta de valores e da Contabilidade online, que tem criado uma polêmica muito grande.

Neste momento de crise pelo qual o País atravessa, o contador tem um papel decisivo?

Segundo o empresário húngaro-americano George Soros, “um dos grandes segredos para você ganhar dinheiro é não perdê-lo”. Usando essa lógica, o contabilista pode ajudar – e muito – o empreendedor na questão de controles internos. Aumentando tais controles, é possível verificar como melhorar o processo produtivo ou o mapeamento dos processos dos serviços do cliente, de forma a produzir mais com menos. Essa é a forma da grande receita para as empresas e os contadores enfrentarem a crise. Observado o mercado brasileiro, é perceptível que há um espaço muito grande para esse aperfeiçoamento. Por isso, o contabilista que tiver essa postura certamente terá mais oportunidades de negócios e será muito mais valorizado.

Com as novas tecnologias, o advento do Sped, a entrada do e-Social e as mudanças na legislação, de que forma o profissional da Contabilidade conseguirá aglutinar tudo para dar uma assistência gerencial com qualidade?

Quanto melhor o mapeamento de processos e controles mais é possível ter segurança para atender as exigências do Sped, as quais são on-line, muito mais rápidas e exigem maior precisão por parte do controle da empresa e dos profissionais da Contabilidade. No que diz respeito à tecnologia, a otimização da ferramenta nas nuvens, por exemplo, é algo muito importante para os contabilistas e para os empreendedores, mas que deve vir acompanhada de segurança da informação. Hoje, já temos, no Brasil, um caso de sequestro de dados. Ou seja: há necessidade da internet se tornar cada vez mais segura. Esses são alguns aspectos que o brasileiro precisa tomar muito mais cuidado e atenção no que diz respeito à evolução tecnológica.

No que diz respeito à Contabilidade Pública, se o governo federal tivesse observado e considerado o método “Partidas Dobradas”, cuja essência é que o registro de qualquer operação implica que um débito em uma ou mais contas deve corresponder a um crédito equivalente, de forma que a soma dos valores debitados seja sempre igual à soma dos valores creditados, o que o contador deve fazer para sanear a Contabilidade Pública?

O contador, tanto da iniciativa privada quanto de órgãos públicos, é de fundamental importância quando o assunto é Contabilidade Pública. O profissional da Contabilidade que atua no funcionalismo público deve ir em busca da transparência necessária que as leis atuais exigem, mas que não estão sendo cumpridas. Um exemplo disso são os Portais da Transparência. Qualquer cidadão que clicar solicitando as informações não terá tais dados com a nitidez que a lei exige, que é fornecer um entendimento de forma clara e objetiva para onde estão sendo destinados os recursos. As pessoas, diante da maioria dos demonstrativos financeiros ali representados, têm dificuldades de entender o que aquilo significa e para onde as verbas estão sendo empregadas. Por outro lado, o contabilista que atua na área privada pode usar seu conhecimento para cobrar a administração pública no tocante à transparência e a orçamento. Em Ribeirão Preto/SP, por exemplo, nós, do Observatório Social de Ribeirão Preto – OBSRP, fizemos, em 2015, uma análise de um orçamento apresentado pela Prefeitura para 2016. Foi previsto um crescimento de 16,8%, o que caracteriza um completo absurdo. Se o crescimento fosse do tamanho da inflação já seria algo totalmente otimista. Neste sentido, nós solicitamos para que tal estimativa fosse alterada. Se isso tivesse sido feito, o orçamento seria reduzido em aproximadamente R$ 460 milhões para o município. Infelizmente, nosso trabalho não foi considerado pela prefeitura.

Na prática, qual é a consequência disso?

Eles anteciparam uma arrecadação para 2016 altíssima e preveram gastos em cima dessa arrecadação. Como tal recolhimento não irá acontecer, logicamente haverá dificuldades com o pagamento de fornecedores e funcionários públicos, entre outros. Tal ação vai prejudicar todo o município no fim do ano que vem. Tudo isso porque os gestores não ouviram os profissionais da Contabilidade.

O que é o Observatório Social?

É uma entidade sem fins lucrativos, constituída em dezembro de 2012, associada ao Observatório Social do Brasil – OSB, sendo um espaço apartidário, que atua em favor da transparência e da qualidade na aplicação dos recursos públicos. Seu propósito é contribuir para a melhoria da gestão pública. O OBSRP foi formado por cidadãos voluntários apartidários, representantes de entidades da sociedade civil organizada, lideranças contábeis, empresariais, da Receita Federal do Brasil – RFB, da Associação Comercial, das Receitas Estaduais e Municipais, entre outros órgãos, e tem por objetivo atuar nas seguintes frentes: Gestão Pública – Executivo e Legislativo, Educação Fiscal, Transparência e Ambiente de Negócios. Na prática, seu propósito é melhorar o gerenciamento do dinheiro público. Nós já fizemos vários trabalhos de compras públicas, orçamentos e licitações que não estavam corretos, de acordo com o nosso entendimento, e também solicitamos que os órgãos da administração direta e indireta tivessem maior transparência.

Hoje quantas pessoas compõem o Observatório?

Nós começamos com 32 voluntários e hoje estamos com menos, mas estamos em um processo de profissionalização, buscando investimento de empresas que possam colaborar com a manutenção e o futuro do OBSRP. No tocante à profissionalização, nossa ideia é contratar pessoas que possam se dedicar oito horas por dia a verificar questões relacionadas com nosso objetivo, que é a melhor destinação das verbas e recursos públicos na cidade de Ribeirão Preto. Nosso modelo foi copiado de Maringá/PR, mas existem Observatórios em outras cidades. É importante enfatizar que o OSB tem por propósito fomentar a constituição de Observatórios Sociais por todo o País. Em sua visão, se houvesse mais Contabilidade neste País existiria menos corrupção? Sim, com a Contabilidade bem aplicada é possível ter melhores controles. Com melhores controles, fica bem mais difícil o desvio do dinheiro público.

O contador tem autoridade para impor uma correta Contabilidade?

O contador sofre uma pressão muito forte de cargos superiores que podem prejudica-lo. Aí está a importância do respaldo das entidades de classe, sejam sindicais, sejam de Contabilidade, para que ele possa exercer sua profissão sem desvios de conduta. E isso não é válido somente para o contador público. Muito pelo contrário: os contadores da iniciativa privada também podem sofrer pressão e encontrar barreiras. Mas, nas empresas é mais fácil de coibir esse tipo de prática, porque o contador pode mudar mais facilmente de emprego. Há também a possibilidade da empresa dispensar o cliente sem ética. Por sua vez, o contador público tem mais dificuldades em encontrar uma recolocação no mercado. Mas ainda há um problema pior na Contabilidade brasileira: não estão sendo contratados, para atuar na gestão pública, a quantidade de contadores que deveriam contratar. Ainda há órgãos públicos e prefeituras que não têm contador: eles contam com profissionais de outras áreas para fazer a Contabilidade, o que é um erro enorme.

O que a classe contábil deve fazer para impor a sua autoridade neste cenário?

Este é um trabalho muito forte tanto do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, Conselhos Regionais de Contabilidade – CRCs, federações, sindicatos de classe, universidades e faculdades em geral para exigir a quantidade mínima e ideal de contabilistas na área pública. Se a Contabilidade for bem feita e bem aplicada, nós teremos condições de verificar as aplicações dos recursos públicos e seus resultados, evitando a corrupção, que é um grande problema do Brasil. Mas, muito pior do que a corrupção é a má gestão, e se eliminarmos a má gestão, por tabela, eliminaremos também o desvirtuamento do dinheiro público.

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