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“Quem nos remunera são os clientes, não o Fisco”

COSTÁBILE NICOLETTA

A Orcose Contabilidade e Assessoria está prestes a completar meio século de existência, quase toda ela vivida na Vila Olímpia, na capital paulista. Hoje, seus 110 funcionários se dividem nos oito andares de um prédio próprio, na Rua Clodomiro Amazonas, para atender uma carteira de cerca de 350 clientes de todos os portes (inclusive multinacionais).

O nome Orcose deriva de Organização Contábil Serafim, referência ao nome de seu presidente e fundador, José Serafim Abrantes, ex-presidente do Conselho Federal de Contabilidade (1988 a 2001) e de outras entidades de classe que montou a empresa há 48 anos.

Julio Linuesa Perez, um dos oito sócios-diretores do escritório, participa de um grupo de trabalho no Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP) que se dedica a reunir, semanalmente, as alterações legislativas ou das normas em vigor pertinentes à atividade e resumi-las no sítio da entidade (www.crcsp.org.br). O objetivo é auxiliar os profissionais a manter-se atualizados em relação à barafunda de exigências legais e fiscais — muitas vezes conflitantes — que se avolumam dia a dia no País.

“São pelo menos 30 tópicos por semana, e nos restringimos às principais alterações e seu respectivo roteiro de procedimentos para atendê-las”, diz Linuesa, para quem, no fim das contas, a maior parte do tempo dos contabilistas é consumida mais com atividades relacionadas ao Fisco que com as empresas para as quais prestam o serviço, numa inversão de valores. “Afinal, são as empresas que nos remuneram, não o Fisco.”

Segundo o diretor da Orcose, o governo federal tomou uma série de providências nos últimos 15 anos que contribuíram — de maneira salutar — para diminuir a sonegação fiscal. Nesse processo, inclui-se a adoção do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), pelo qual se informatizou a transmissão das informações contábeis e tributárias das empresas à Receita Federal. A partir do próximo ano, farão parte desse rol também os dados trabalhistas e previdenciários, por meio do sistema chamado eSocial.

A sofisticação dos cruzamentos de dados é tamanha que praticamente tudo que um contribuinte faz passa por um dos controles digitais da Receita Federal. Tanto que, em breve, a Declaração de Imposto de Renda poderá ser somente um instrumento pelo qual as empresas e os cidadãos ratificarão as informações que já estão de posse do Fisco.

Com todas essas medidas, o governo federal conseguiu trazer à formalidade uma boa parte dos negócios que não apareciam no cômputo dos impostos. Isso explica por que a arrecadação sobe ano a ano, independentemente da evolução do Produto Interno Bruto (PIB). Ainda assim, diz Linuesa, a carga tributária continua alta e há redundância nas obrigações das empresas para com os Fiscos (federal, estadual e municipal), em razão da convivência de um sistema novo (Sped) com as antigas declarações fiscais que continuam sendo exigidas, o que aumenta não só o tempo necessário para cumpri-las, como também a probabilidade de cometer erros.

De acordo com o executivo da Orcose, ainda há casos de até a triplicidade de exigência de uma mesma informação por caminhos diversos. Esse processo precisa ser racionalizado, diz ele, pois absorve o tempo tanto dos contadores quanto dos empresários, sendo que ambos o poderiam usar discutindo estratégias de crescimento da companhia, avaliando o que a organização precisa, o que pretende e aonde quer chegar. “Não faltam problemas” afirma Linuesa. “Que bom, mas temos de estar preparados para as soluções e procurá-las para oferecê-las a nossos clientes e ajudá-los a crescer, pois a contabilidade é uma ferramenta de gestão para nortear os caminhos do empresário.”

Se conseguiu promover um aumento gradual da formalização da economia com a diminuição da sonegação por meio de sofisticados meios de controle, o governo ainda mantém uma máquina estatal inchada para fazer esse mesmo controle. “Será que isso ainda é necessário”, indaga. As manifestações populares são uma demonstração de que a sociedade começa a reivindicar que os recursos oriundos dos impostos sejam mais bem aplicados. “Há muitas contestações nas ruas, justas e injustas”, diz Linuesa. “Faltam-nos algumas bandeiras; temos de levantá-las”, continua. “Faltam-nos alguns líderes; temos de procurá-los.”


Crédito da foto que ilustra este texto: Paulo Prendes.

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