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Auditoria Externa no BNDES: acompanhe a análise do mestre em Ciências Contábeis, Edgard Cornacchione

Em recente entrevista coletiva o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -BNDES, Gustavo Montezano, declarou que a auditoria externa contratada pela instituição não encontrou irregularidades nos contratos com o grupo J&F embora tivessem surgido acusações por parte da sociedade civil sobre esses contratos. Para o presidente do BNDES, depois dessa apuração “não há nada mais esclarecer” em relação às operações do banco.

Montezano também corrigiu o valor pago com a investigação, em vez R$ 48 milhões, os cofres públicos desembolsaram R$ 42,7 milhões. A correção se deu pelo fato desses valores terem sido pagos em dólares, tendo como base a data em que cada contrato foi firmado.

A auditoria no BNDES foi contratada entre 2017 e 2018, pelo governo do então presidente da República, Michel Temer, com custo inicial total de R$ 23,4 milhões, mas ao longo dos trabalhos recebeu dois aditivos. Em 2018, em razão da ampliação do volume de trabalho nas investigações, houve uma suplementação no valor de R$ 5,067 milhões, realizada em novembro daquele ano. Muito dinheiro público foi gasto na apuração, mas nada de irregular foi encontrado para descontentamento de uma parte da sociedade.

Diante de um tema tão importante envolvendo acima de tudo a Contabilidade, o Portal Dedução  ouviu o mestre Edgard Cornacchione, PHD em Ciências Contábeis pela University Illinois e Harvard Business School, além de livre-docente pela FAU/USP, que nos atendeu com exclusividade.

– Professor, o que aconteceu no BNDES, no caso da Auditoria Externa?

R- Uma auditoria interna, com funcionários da própria organização, procura apoiar a administração desempenhando continuamente atividades relacionadas à qualidade dos controles internos. Já a auditoria externa, com profissionais de fora da organização e independentes, pauta sua avaliação na fidedignidade das informações e demonstrações financeiras, de forma periódica. Ou seja, ambas buscam avaliar a qualidade dos controles internos para permitir aprimorar a gestão (interna) e garantir a qualidade das demonstrações financeiras (externa). Neste caso citado, parece se tratar de preocupação com possíveis erros ou fraudes em relação a um conjunto de contratos específicos. A gestão possui a responsabilidade pela prevenção e identificação de tais fatos e pode contar com apoio da auditoria interna (continuadamente) ou externa (pontualmente). Aqui, no caso citado do BNDES, a gestão buscou informar sobre a lisura dos contratos.

– Mesmo levando em consideração o tamanho e a importância de um banco de desenvolvimento, o custo da auditoria externa realizada, pareceu alto aos olhos da sociedade. Como contabilista, também é essa a sua opinião?

R- Como brasileiro reconheço que as cifras chamam a atenção, basta ancorarmos o valor em outros contratos de prestação de serviços. Mas não é possível afirmar a respeito, sem conhecer e avaliar em detalhes o escopo, requisitos, objetivos, dificuldades, formato e equipe de trabalho e principalmente, o risco. A complexidade de operações de um banco como o BNDES e o período envolvido aumentam a lista de elementos impactando o valor.

– Uma auditoria externa é de fato um produto caro?

R– A resposta simples é “não.” Principalmente se levarmos em conta os benefícios que são obtidos. Auditoria trata diretamente de confiança na comunicação da riqueza de um negócio aos interessados. Não apenas na condução regular dos negócios, mas principalmente se pensarmos em situações específicas de transações em que credores, colaboradores, investidores, entre outros agentes, ganham maior transparência e tranquilidade ao avaliar uma empresa, um negócio. Isso sem falar em maior segurança para a própria gestão.

-Qual o melhor caminho para se evitar irregularidades, fraudes ou equívocos? Se puder, cite exemplos.

R- Cada organização tem sua cultura e sua coleção de valores, assim como cada gestão impõe ritmo próprio atrelado à coleção de princípios norteadores para garantir êxito nos negócios ao mesmo tempo que controlando ações e mitigando riscos. A melhor forma é ter condutas e práticas bem orientadas, equipe bem engajada e metas claras em ambiente transparente. Capacitar e fortalecer pessoas, processos e sistemas é essencial. Empresas muito pequenas e até as realmente grandes, tendem a se beneficiar muito da auditoria interna, notadamente no que diz respeito às salvaguardas e aos controles internos, nas mais diversas áreas funcionais e condições. Já, ao se lançar mão de uma auditoria externa, pontualmente, se faz necessário ter questões em foco, sendo assim merece atenção e escrutínio. 

– Diante do que foi dito, os auditores externos seriam uma espécie de última instância da Contabilidade?

R- A sociedade de forma geral pode enxergar a auditoria externa como investigativa na dimensão “policial,” porém não é essa sua essência. E são muitos os casos mundialmente, que nos fazem recordar dessa máxima. Podemos sim dizer que a auditoria externa, por meio de avaliação dos controles e processos, valendo-se de expertise, ritos e procedimentos altamente especializados, pode ser um elemento de alto valor no aperfeiçoamento de instrumentos (controles internos) para detecção e prevenção de fraudes.

– Qual a experiência que fica para os contabilistas em relação a esse episódio do BNDES?

R– Fica constatada mais uma vez a importância do contador em promover o escopo, buscando no objetivo de seu trabalho torná-lo peça fundamental para determinar o posicionamento profissional dos demais envolvidos com projetos similares. A gestão em conjunto, com agentes interessados (como credores, investidores, colaboradores, fornecedores e clientes) e com os auditores, deve delimitar de forma apropriada os trabalhos, para que sejam desenvolvidos de forma mais otimizada para assim se alcançar os objetivos esperados.

Entrevista: jornalista Geraldo Nunes.

 

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